Como eu vim parar aqui? Eu ainda não sei.
O plano era uma vida solitària, com um minimo de material, minimo de laços e minimo de barreiras. "Viver nas falhas so sistema" alguém me disse que isso era o que eu queria.
Ser independente, auto-suficiente, acreditar na sustentabilidade, não gerar lixo desnecessàrio, reciclar, inovar, não sofrer e não amar.
Acreditei por muito tempo que esse era o caminho. Que assim eu chegaria a todos os lugares que eu sempre quis. Eu não queria e nem ia perder meu tempo com as coisas corriqueiras, com os males do mundo. Eu queria fazer meu proprio mundo!!!
E agora, José? Eu, acostumada com o zum zum zum da cidade, crescida no asfalto sempre quente, estou vivendo um sonho suburbano. ô, Deus... onde isso vai parar?
Acho que foram os olhos azuis e o ar de mal que me arrastaram pra tão longe da meta. Fui engolida por esse lado mais pacato e cheio de codigos e senhas, cartões e burocracias... e não foi sem querer que eu vim parar aqui. Se eu estou aqui é porquê de alguma maneira, mesmo que inexplicavel, isso aqui me faz feliz!
Começo tento mais cartões de identidade do que eu gostaria. Numeros e registros infinitos. Conta no banco, cartão de credito. Eu declaro imposto de renda!!!! EU????
Vou e volto de ônibus, sistema publico de transporte. Tenho um empego e vivo de salario minimo. Lavo so a louça que nao cabe na lava-louça. Cozinho, penduro a roupa lavada na corda pra secar. Convivo com fantasmas vivos de exes e outras cositas mas...
Estou sem poder acreditar. Acho que meu cérebro atônito planeja secretamente uma fuga pra um lugar mais justo. Mas o mesmo cérebro atônito esconde essa fuga do resto do meu corpo que se sente totalmente confortàvel nessa vidinha de meio mundo.
Me espantei quando hoje mais cedo me vi dobrando a roupa e guardando numa gaveta que mal cabe tudo o que eu tenho. "Mas seu plano não era ter so o que cabe na mochila?" - tenho ouvido muito isso hoje em dia... de uns tempos pra ca andei exagerando no consumismo inoportuno.
Ou vai ver é o amor.... esse tal que eu neguei tanto e que insisto em confirmar que ele não existe como sentimento ùnico e sim como uma combinação de sentimentos.... ele mesmo, o amor, me pegou e me furou, deixou escapar todo meu ar aventureira, todo o meu desligamento e desprendimento e me enroscou, me amarrou e esta me desconfigurando pra re-instalar um novo sistema operacional, o de mulher-apaixonada-que-quer-casar.
E ontem a pargunta do dia foi "Pai, vc e a Dani vão fazer um bebê???" - não que a gente não pratique, mas acho que de praticar a fazer um bebê propriamente dito tem uma grande diferença.... bebês crescem e começam a fazer perguntas que normalmente não sabemos as respostas...
O infanto pseudo-enteado quer ter uma irmãzinha.... e eu aqui.... suburbana, pendurando a roupa no varal.... olhando pro céu pra ver se vai chover.