sábado, 9 de agosto de 2008

chemin

Então... hoje sai a pé. Sabia que era longe, mas perdi o ônibus de propósito. Fui a pé. E ai é assim... o caminho era novo, e eu sabia que poderia encontrar surpresas agradáveis e desagradáveis, mas fui assim mesmo.

Tudo ia muito bem, como alias todos os passeios a pé por novas redondezas que eu já dei aqui em Montreal. Mas eis que avisto a linha do trem... a mesma que tem entre minha casa e o supermercado e entre a casa e o trabalho. De casa pro supermercado o trem passa por baixo da rua, gosto de ficar olhando ele ir, vir, de vez enquanto. Do trabalho pra casa o trem passa por cima da rua, numa ponte de ferro, tenho medo de passar por baixo quando o trem esta la, parece que vai cair, passo rapidinho e como a ponte é de ferro faz barulho, mas não fica escuro em baixo. E na ponte de hoje era beeeeeeeeeem escuro em baixo, já dava pra ver de longe que eu teria que passar por baixo e no escuro. Já logo apertei o passo e olhei mil vezes pra trás pra ver se não tinha nenhum ser sinistro me seguindo ou se o ônibus milagrosamente não viria pra me salvar do sufoco.

Eu mesma não entendo o medo (pavor eu diria), a cidade é segura e os seres sinistros não são exatamente perigosos. Assustam mas não oferecem perigo. Já debaixo da ponte e no escuro, com barulho de carros e do trem eu senti muitas coisas ao mesmo tempo. O sentimento é que tem alguém atrás de mim na eminencia de me estrangular. Pode ser um dos seres sinistros da cidade, pode ser um monstro-malvado, pode ser uma planta gigante com vida ou qualquer outra coisa pensante que a minha imaginação insiste em criar. Eu sei que isso não vai acontecer, olho pra trás e vejo que não tem nada la, tenho um milionésimo de segundo de paz no coração, mas quando volto a olhar pra frente o sentimento de pavor volta. Rezo. Aperto os olhos pra tentar não ver, mas logo abro de novo. A coisa toda não dura mais que dois minutos, mas são minutos intensos, longos e eu pareço estar em cima de uma esteira rolante que mesmo que eu ande pra frente ela me leva pra trás, a luz depois da ponte do trem insiste em não chegar e o outro lado parece muito distante. Isso só pode ser algum trauma é o que passa pela minha cabeça.

Eu me acho tão forte e tão destemida, encontro sempre o meu caminho sozinha e apesar de todos os medo nunca deixo de tentar, de correr riscos, de pagar pra ver... mas com ponte é outra história. Não é medo. É um pavor inexplicável de coisas que eu tenho total consciência só existirem dentro da minha cabeça.

O que fazer? Dar meia volta? Jamais! Subir e atravessar no meio dos trens? O perigo é mais real e físico nesse caso. Acho que o melhor é encarar a escuridão e todos os monstros que me seguem e chegar do outro lado e respirar aliviada, quase olhando pra trás, mostrando a língua e pensando que mais dessa vez ele não conseguiram me estrangular.

Um comentário:

Mwho disse...

Somos domadores de monstros!