sexta-feira, 16 de março de 2007

Coberta, descoberta, recoberta...

Não consigo abrir meus olhos completamente.
Percebo que a imagem está meio embaçada.
Preciso fazer esforço pra conseguir abrir os olhos e enxergar.
Preciso enrugar a testa e apertar os lábios,
Como que com dor.
Aos pouco o borrão de luz e sombra vai tomando forma.
Vai tomando cor.
E vai ficando em foco.
Estou deitada.
Consigo sentir meus braços e minhas pernas,
Enroscados em outros braços e outras pernas,
Difícil saber onde acaba o meu corpo
E onde começa o corpo enroscado no meu.
Fácil é a sensação de conforto,
Um prazer que ainda dura.
Na pele.
Nos olhos.
Sim, os olhos!
Já enxergo o meu entorno,
Perto e longe.
Vejo que estou em casa, ou num lugar conhecido.
Nada de estranho.
Começo a mexer os dedos.
Primeiro das mãos.
Depois dos pés.
Não posso fazer movimentos bruscos,
Ainda não sei em que corpo o meu se enrosca.
Mas também pq é confortável.
É quente.
A coberta está enroscada também.
Como um embrulho de um presente que foi aberto.
Descoberto.
E recoberto.
Com carinho, surpresa e êxtase.
Com o toque das pontas dos dedos...
Sim, os dedos!!!
Começo a movimentar alguns outros músculos.
Suavemente.
Com cuidado vou me desenroscando.
Meio sem querer,
Meio querendo.
Querendo ver o corpo enroscado no meu.
Não quero que o corpo mude de posição,
Pra eu poder me encaixar de novo depois.
Depois de ver,
De olhar,
De observar.
Mesmo com toda a vontade de ficar,
Eu me levanto.
Pés descalços no chão frio,
Gelado.
Mas o ar é quente.
Com cheiro bom.
Cheiro de prazer.
Cheiro de sexo.
De não tão perto me ponho a olhar.
Aquele corpo
Enroscado agora somente na coberta.
Descoberto.
E recoberto.
O rosto ainda está escondido no travesseiro.
Os cabelos compridos e soltos,
Bagunçados.
O nariz respira suavemente.
O ar entra e sai.
Num compasso.
As mãos apertam com doçura a fronha.
O joelho esquerdo, flexionado,
Ligeiramente fora do colchão.
Colchão sem coberta, descoberto e nunca recoberto.
Agora estou sentada.
Admirada.
Mordendo os lábios.
Querendo sorrir.
Segurando o riso.
Esperando o despertar do corpo enroscado.
Ele sonha.
Sonha e também sorri.
Eu só consigo ver o cantinho da boca.
Os olhos estão fechados,
Mas no cantinho da boca tem um sorriso.
Um suspiro.
De repente,
Um suspiro!
Eu posso me imaginar ali.
Enroscada,
Descoberta,
Coberta e
Recoberta.
Posso me ver.
Posso sentir.
Vou voltar.
Não devia ter levantado.
Olhar é bom.
Observar é maravilhoso.
Mas estar lá é melhor.
Devagar eu volto.
E me aconchego.
Me enrosco.
Me cubro,
Me descubro.
Me abraça.
Me enlaça.
E diz que me ama.
Deliciosamente.
Eu também.

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